sexta-feira, outubro 31, 2008

Robin dos Bosques

O mundo da farmácia tem muito mais do que aquilo que se vê de fora. Não, não é só aturar velhas pestilentas. O farmacêutico é um verdadeiro agente de saúde pública que, enquanto as velhas não chegam à farmácia tem de fazer mil e uma coisas nos bastidores: roubar amostras, conversar sobre os vizinhos, cortar as unhas dos pés e até, às vezes, em momentos de loucura, ler as circulares do Infarmed sobre medicamentos retirados.
Uma das minhas imensas funções é corrigir receituário. Passo a explicar: o doentinho chega à farmácia com uma receita do sôdotor, o Robene avia a receita e, depois, alguém vai corrigir a receita a ver se tudo foi nos conformes (esse alguém, costumo ser eu também). Caso tenhamos, hipoteticamente, por engano dado o dobro das dosagens prescritas pelo médico, há que corrigir a receita, para que, quando o doente (agora sem rins e fígado) vier reclamar que lhe demos a medicação errada, nós possamos dizer: «O quê? está louco?!?!? Olhe aqui!!! Demos tudo certinho. A culpa é toda do médico».

Obviamente que esta é uma função verdadeiramente merdosa. Estar a tarde toda a corrigir receitas é tão emocionante como o Herman José a apresentar a Roda da Sorte.
Vai daí, eu inventei pequenas distracções. Como assinar as receitas com nomes estapafúrdios. Como John Holmes. Ou Sancho Pança. Ou Adolfo Dias.
O problema...Bem...o problema é que este mês vieram receitas minhas devolvidas (i.é., seus ignóbeis, as receitas estavam com algum erro que por alguma razão escaparam ao meu olho de águia, e o serviço nacional devolveu-as sem pagar a comparticipação, capice?).

Doutora XPTO: Vieram receitas devolvidas, Robene.
Robene: Hum...
Doutora XPTO: Vamos ver quem foi o farmacêutico responsável.
Robene (a suar, pensando): Por favor que não tenha sido nenhuma das que eu assinei no gozo, por favor, por favor, por favor Meu Deus, pelo menos desta vez salva-me o coiro...
Doutora XPTO: Farmacêutico ROBIN DOS BOSQUES? Mas o que é isto????
Robene: Pois...ai...não sei....eheheh...ahahah...
Doutora XPTO: Isto é uma coisa séria!! E esta está assinada como Picapau Amarelo!!!
Robene: Foi uma piadinha hihih, para animar o pessoal que confere no SNS...eheheh...aiiiiiii...
Doutora XPTO: (Olhar de fúria).


Isto há gente sem o mínimo sentido de humor.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Grandiloquência (isto existe?)

Em cada circular que leio da UC lá vem a frase...
«O Magnífico reitor da Universidade de Coimbra...blá,blá,blá...»


Desculpem lá mas onde é que o senhor Reitor tirou este grau académico? Terá sido numa das magníficas faculdades da Universidade de Coimbra? Terá tido magníficas notas? Será ele uma pessoa magnífica? Ou será que magnífico significa merdoso e ninguém me disse nada? Terá o significado da palavra magnífico misteriosamente mudado? Será que ainda falamos todos português?

Estas e outras dúvidas têm-me impedido de raciocinar devidamente nos últimos dias. Por isso, de ora em diante, cada vez que se referirem à minha pessoa deverá ser «o Magnífico Robene». Quando esta merda passar a monarquia, e eu for o vosso rei, quero um cognome adequado.

Whatever happened to?...

Meg Ryan? Ok, depois de lhe ver as mamas no In the cut, eu percebo que a mulher tenha acabado a carreira cinematográfica...Mas até lhe achava certa piada...

segunda-feira, outubro 27, 2008

Meds

In O segredo, de Ronda Byrne:

«Visualizar é o segredo. Visualize uma situação que deriva do facto do seu desejo se ter concretizado. Só acreditando você consegue. Quanto mais pessoas visualizarem, melhor.»

Vá gente, tudo a visualizar o Robene a fazer reanimação cardio-respiratória a moribundos em overdose.
A minha vida anda tão triste que vou tentar entrar em medicina!

Dinner time

Fui jantar no outro dia, Sábado de Latada, com o pessoal.
Nos nossos jantares, antes académicos agora de amigos, há apenas uma regra: tem de ser no sítio mais nojento que se encontre, desde que seja barato.
Assim já jantámos em pleno Dezembro numa esplanada de rua (a aragem -7ºC ajudou a digerir a grelhada mista); em caves sem nenhuma janela num restaurante chamado Cova Funda; num vão de escada chamado Viela, onde o dono jurava a pés juntos que um traficante de droga lhe tinha dado 35 mil euros para guardar; e às vezes, em acessos de desespero, chegámos a ir jantar às cantinas da Universidade de Coimbra.
Os nossos jantares são sempre altos encontros intelectuais. É por isso que entre discussões de Proust, Saramago, o amante do Jorg Haider e o facto dos Buraka Som Sistema terem um dueto com uma outra gaja qualquer que eu nunca ouvi falar, mas que o R.L. quer à viva força que eu mencione no blog, nunca percebi muito bem como é que acabamos os jantares extremamente bebâdos, com toda a gente aos berros para eu, Robene, dançar a minha famosa dança dos Anjos (um dia posto vídeos).
Obviamente que já foram mais loucos do que agora, mas a idade pesa, e eu já não abano muito bem as ancas, ainda por cima agora que vou ao ginásio e tenho muito mais músculo para mexer.
De qualquer maneira, há sempre coisas novas para aprender em cada jantar...

Os Peidos não são como os pombos
Que voam nos pombais
Os pombos vão e voltam
Os peidos não voltam mais.

terça-feira, outubro 21, 2008

Paris, Texas

Apesar de Deus (ou o Bigfoot) me ter dado um rol de qualidades inumeráveis, o sentido de orientação não foi uma delas.
Aproveito para dizer agora que, no Sábado, me deu na veneta ir ver a Aimee Mann a Lisboa. Sem GPS. E sozinho.
Vejo o roteiro na net, e penso: tu consegues Robene. Tu és um gajo maior de idade, tens carro e acima de tudo até falas português que se entenda. Tu consegues chegar ao Coliseu.
E lá vou eu, tanque cheio e cigarros no bolso.
Na autoestrada tudo bem. Mantive-me sempre na faixa da direita, nunca passei os 90, e fui cantando alegremente músicas da Aimee Mann para entrar no espírito.
E eis que chego a Lisboa. E eis que o caminho por mim decorado está...CORTADO AO TRÂNSITO. Panico um bocado. «Tu consegues Robene, tu consegues», mas os meus tomates estão cada vez mais encolhidos.
Pergunto ao sôr polícia por onde devo ir para chegar ao coliseu. O polícia responde qualquer coisa como «Vai-te foder coimbrinha do caralho, não te vou dizer nada». Ou me disse isto ou me deu as indicações, mas vai tudo dar ao mesmo, porque eu não sou de lisboa e mesmo que ele me tenha dado as indicações eu não percebi um caralho.
Durante o que me pareceu dias a fim, tentei encontrar o Coliseu e por fim lá dei com o sítio.
Entro, sento-me, ainda o coração a palpitar (já para não falar que fiquei com o Pedro Granger ao meu lado, por pouco estive para me vir embora). Lá vejo o concerto (bela merda, por sinal), e preparo-me então para sair.
Durante duas horas (2HORAS) tento encontrar o caminho de volta para a A1. Fumo um maço inteiro em desepero. Dou voltas e voltas, querendo pedir indicações a alguém, mas toda a gente me parece ou putas, ou ladrões ou paneleiros. Tranco o carro não vá ser vítima de carjacking.
Quando dou por mim, estou parado no Martim Moniz, quase em lágrimas, rezando a Deus (ou ao Bigfoot) para sair dali com o meu carro e já agora anûs intacto.
Eventualmente dou com o aeroporto, e choro de alegria por finalmente estar na A1.

Sair de Coimbra outra vez? Nunca mais. Esta é a minha safe zone.

sexta-feira, outubro 17, 2008

Como?

In blitz:

«E se o hino nacional fosse... dos Deolinda?

Petição na internet é um sucesso. Algumas centenas (para já) querem ver "Movimento Perpétuo Associativo" substituir "A Portuguesa". Chega de heróis do mar?»


Caso para dizer fon fon FODA-SE!

sexta-feira, outubro 10, 2008

Noites de serviço, parte 2

(Note-se que nas noites de serviço, eu atendo o pessoal por um pequeno postigo protegido por vidro à prova de bala)


Mulher (aparentemente normal): Um Motilium, por favor.
Robene: Vou ter de lhe cobrar taxa se não tem receita.
Mulher (ou a sua dupla personalidade): Filhos de uma puta!!!#$%"&!/. Cabrões do Caralho. É o estado não é? É esse paneleiro do Sócrates!!!%&#$"%...
Robene (visivelmente sem palavras, coisa rara): Hum...pronto, pronto. Quanto é que tem aí?
Mulher (ou a sua tripla personalidade): 10 euros. Obrigado meu rapaz. Se este vidro não nos separasse (enquanto diz isto desliza com as mãos pelo vidro), eu agradecia-te pessoalmente.

Eu acho que devia era receber um subsídio por ter uma profissão de risco.

Gym Class Hero

Hoje não me consigo mexer. Estou totalmente dorido. Doem-me os braços, o peito e as pernas.
Fui atropelado.
Ou é como se tivesse sido.
Fui ao ginásio pela primeira vez. Decidi que já chega ter de suster o fôlego e encolher a barriga cada vez que visto as calças.
Assim, eis-me de ténis Nike, calções sport zone e t-shirt do sudoeste de 2002 no espectacular Faculdades do Corpo, que passará, doravante, a ser chamado de segunda casa.
O ginásio está cheio de gajos musculados, que gemem cada vez que levantam peso. Por muito excitante que possa ser alguém a gritar PUTAAAAA enquanto levanta 50 quilos, não é propriamente o glamour que o Homes Place parece ser, mas os cabrões do HP pedem uma mensalidade apenas possível a donos de bancos e paneleiros.
E foi assim que eu comecei com 15 minutos de corrida, seguido de mais não sei quantos milhares de horas em máquinas de musculação, onde senti a minha virilidade elevada ao máximo (como se isso fosse possível).
Em breve começarei a tomar esteróides anabolizantes, a comer apenas proteínas, e a malhar ferro de manhã à noite. Passarei de Robene a Robenão, nome carinhoso que os amigos vão ter de me passar a chamar, sob pena de lhes espetar uma lambiostina e deixá-los em estado vegetal.

Ah, e já paguei um ano inteiro.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Free me

Vejo na televisão um anúncio da Zon com uma tal de Ana Free. Ouço na rádio, a toda a hora, a dita cuja da Ana Free. Pergunto: mas quem caralho é a Ana Free? E que merda de nome é este? Dizem-me que é o novo fenómeno, descoberta no Youtube.
Caríssimos, fenómeno é eu próprio não ser ainda uma rockstar, de tão bem que canto.
Eu dou autênticos espectáculos no chuveiro, só me falta é o cachet.
Eu sou daqueles gajos que quando conduz, mete o rádio no máximo, e vai a berrar, enquanto acompanha a bateria com baquetes imaginárias nas mãos. Isto é muito bonito na auto estrada, mas descobri recentemente que em semáforos da cidade não funciona muito bem, quando fui insultado por duas pitas que me toparam a cantar e a esbracejar no carro, quase tendo um ataque orgásmico a ouvir umas musicoilas de Joy Division. Concerteza eram fãs da Ana Free.

Então portanto eu vou gravar um vídeo no Youtube. Consistirá em mim, a cantar músicas numa língua inventada por moi même (foi assim que os Sigur Ros conseguiram a sua legião de fãs), enquanto toco um instrumento também concebido por mim, o Robenelho, que consiste numa guitarra cujas cordas foram substituídas por pintelhos que tirei do ralo da banheira. Para aproveitar a onda do Devendra Banhart, vou estar nuzinho da silva, e com um ar ligeiramente ganzado, a modos que a dizer ó-pa-mim-sou-o-epíteto-da-coolness.
Em breve, vou ter a Meo atrás de mim.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Gripe dos velhos

Descansado, regresso ao trabalho. Vou calmo, pensando no tapete vermelho que me espera, um festim de boas vindas composto de leitão assado e vinho tinto do bom, a subserviência dos meus colegas de trabalho depois de duas semanas sem a minha ajuda.
E de repente lembro-me. «OH NÃO. É OUTUBRO. CHEGARAM AS VACINAS DA GRIPE!»

Aproveito aqui para vos segredar um pequeno aparte. Os velhos são pessoas que passam o ano todo com os netinhos, cozinhando pequenos banquetes doces, passando a roupa e passeando os cães pelo parque. Eu disse todo o ano? ERRADO. Em Outubro, os velhos passam-se dos cornos, trancam os netos na cave, cozinham atum com batatas e matam o Lulu, tudo para serem os primeiros a terem a sua vacina da gripe. É uma questão de vida ou morte. Ou têm a vacina, ou podem começar uma marcha lenta pela IC2 em direcção a Lisboa, o que implica milhares de arrastadeiras a entupirem os principais acessos às cidades, provocando o colapso de Portugal inteiro.
É por isso que em Agosto, de mansinho, eles começam a ligar para a farmácia, para saberem se já temos stock de vacinas. «Não, só em Outubro», respondo eu. Mas eles insistem todos os dias, como a que testarem a minha saúde mental e capacidade de pegar num machado e cortar a carótida a alguém.

Voltando ao meu regresso à farmácia...Ainda penso em ir-me embora. Estou a tempo. Volto para trás, despeço-me por telefone, e evito assim chegar a casa com o odor a naftalina e pasta couto na roupa.
Olho de soslaio para a farmácia. O caminho parece livre. Nem um velho à vista.
Visto a bata.
Mal ponho os pés no balcão, qual filme do Hitchock, surgem-me duas velhas pela retaguarda, mandando-me bengaladas na cabeça e prometendo sexo geriátrico se lhes arranjar duas Influvac.
E será assim até ao final de Outubro, altura em que as hormonas gripais desçam a níveis normais, e os velhos voltem a ser o que são: velhas passas encarquidas (mas sem medo da gripe).