sexta-feira, abril 16, 2010

Todos os nomes

Eu estive quase para me chamar Bernardo. Se assim fosse, seria agora possivelmente um advogado de sucesso, conduziria um BMW e teria uma casa na Foz do Porto.
Infelizmente o meu avô paterno também se chamava Bernardo, e a minha mãe não podia com ele, pelo que o nome chique e com pedigree que deveria ter agora foi com os cães.
A minha mãe queria que eu tivesse um nome ainda mais chique. Um nome que mal as pessoas ouvissem associariam a estatuto e poder. A minha mãe queria chamar-me Tony.
Reparem, o meu apelido é Santos. Tony Santos. Seria de longe algo que as pessoas nunca esqueceriam.
Infeizmente no registo informaram o meu pai que o nome Tony com Y não era permitido. E claro que Toni com I, não tem metade do potencial de chiqueza. Vai daí, fiquei Robene.
Robene não é um mau nome. Quando as pessoas pronunciam Robene, conseguem ao mesmo tempo libertar um pouco do escarro que têm preso na garganta. É um nome que ajuda as pessoas.
O giro era alguém efectivamente conseguir fixá-lo. Já fui chamado de tudo: Ronaldo, Roberto, Ricardo, Hugo ou o mais comum: Bruno. Em toda a minha vida conheci um único Robene, que tal como eu nunca era tratado pelo nome. O meu amigo G., que conheci no primeiro ano de faculdade não gostava de mim porque tinha um nome esquisito.
Resolvi por isso recorrer à única ajuda possível hoje em dia para trazer um pouco de visibilidade a este problema que assola a sociedade e criar um novo grupo do Facebook: Pessoas com nomes esquisitos também têm sentimentos.
Peço a todos os Armindos, Albanos, Romeus e Vitorinos que se juntem a mim nesta luta.
Juntos vamos dominar o mundo, e fazer com que a próxima geração de bébés se deixe de chamar Martim e Santiago!

quarta-feira, abril 14, 2010

Dona Clara

A dona Clara é um anjo.
Raras vezes falei bem de alguém neste blog, mas sinto que chegou o momento.
A dona Clara vem às quartas de manhã. Às 9 horas toca à campainha, eu abro-lhe a porta e volto para a cama.
Enquanto isso a dona Clara aspira-me a casa, desentope-me a sanita, ordena-me os iogurtes por data de validade e consegue encontrar todos os pares das meias perdidas.
Quando por volta do meio dia acordo, ela vai-me fazer a cama, põe a roupa a lavar separada por cores, e abre as janelas para arejar o cheiro a bedúm.

No outro dia mandou-me com o quadro do Vertigo ao chão e partiu um bocado da moldura. Tentou escondê-lo atrás da televisão, mas eu dei logo nela. Tenho confiança na dona Clara: uma vez deixei um euro e 72 cêntimos na mesa da sala a testá-la e ela não mos fanou. Não vai ser uma moldura meio rachada que me vai fazer zangar com a dona Clara.
Também me faz o almoço, para ir cheio de energia para o trabalho.
Não tarda muito começo a chamá-la de Mãe.

domingo, abril 04, 2010

Krka

Há uma nova empresa de genéricos a operar em Portugal.
É a eslovena Krka.
Isso mesmo, Krka.
No outro dia tive de pedir um paracetamol Krka ao fornecedor.

Robene: Olá, queria o paracetamol da Krka (pronunciei Kerka)
Fornecedor: Estou a ouvir mal. Não percebi.
Robene: Paracetamol Krka (desta vez, pensando que se calhar tinha dito mal, pronunciei Kurka)
Fornecedor: Está engasgado?
Robene: K-R-K-A!
Fornecedor: Ah! O paracetamol K-R-K-A.

Resta dizer que o utente que me pediu o paracetamol o chamou de Krika.
Não auguro grande futuro a esta empresa.

sábado, abril 03, 2010

O pico

No meu trabalho cada pessoa tem o seu pico.
O pico é basicamente um sítio em que colocamos as tarefas que temos de fazer, mas que por toda e mais alguma razão não nos apete...não temos tempo para fazer. E é vê-lo crescer todos os dias, aumentando de tamanho, ganhando vida própria, exigindo ser alimentado.
Eu regra geral tento ignorar o meu pico. Passo por ele, mas sei que se lhe der atenção vou ter de ligar a algum chato que não pagou a conta, vou ter de rever stocks ou pior, vou ter de efectivamente ler circulares de segurança do INFARMED.
Quando vim de Espanha o meu pico era já uma torre. Impedia mesmo a passagem de pessoas para a parte de trás da farmácia. Tive portanto de lhe dedicar algum tempo. E é incrível ver que a maior parte das tarefas já estavam ou resolvidas ou esquecidas.

A minha eficácia laboral ficou mais uma vez provada.