terça-feira, novembro 20, 2012

O cigano que tocava numa banda filarmónica

Recebo no outro dia uma sms no meu telemóvel.
Rezava assim a dita cuja:
«Caros colegas, a reunião da Filarmónica de Fátima será no dia 12, por favor não faltem. Há assuntos urgentes a serem tratados».
Decido ignorar. Mas esta inocente sms brota em mim duras memórias.
Por acaso eu já fui membro de uma Filarmónica.
Ah, os gloriosos dias em que eu tocava flauta transversal na Banda Filarmónica do Troviscal. Lá ia eu, um pré adolescente obeso com a minha fatiota azul. Escusado será dizer que fui vítima de bullying do 5º ao 7º ano.
Aparentemente era tão bom a tocar a dita flauta, que dois meses depois me puseram a tocar trompete. O meu pai, orgulhoso, comprou uma trompete caríssima, e duas semanas depois eu decidi que queria era tocar órgão, e fazer versões super fixes dos Pólo Norte e Delfins. Sim, também era parolo. Imediatamente o meu pai comprou-me um órgão Yamaha, e comecei a ter lições. Dois anos mais tarde já sabia tocar os Parabéns e as Pombinhas da Catrina, mas that's about it.
Anos mais tarde, já com o meu palato musical super refinado, decidi que o que queria mesmo era tocar guitarra e deixar crescer o cabelo. Mais uma vez, o meu dedicado pai (cujo sonho de vida era ter um filho a vingar na música) comprou-me uma poderosa guitarra eléctrica com sintetizador e mandou-me um chapadão na cara por causa do cabelo. Toquei na guitarra uma única vez. E decidi que era demasiado difícil.
Há dois dias voltei a receber uma sms de um número que não conhecia.
Desta vez dizia:
«Primo ciganão, muitos parabéns. Os ciganos vão fazer-te uma grande festa!»
Temos portanto um cigano que toca numa banda filarmónica.
Medo, tenho medo.