Foi ontem o funeral da minha avó paterna.
Não, não houve muita choradeira, afinal de contas a velhota tinha 94 anos e caiu para o lado. A minha mãe foi mesmo com um sorriso muito mal escondido para o funeral da sogra. No carro tive de lhe gritar para deixar de se rir e colocar um semblante pesado.
Toda a gente fez questão de referir que a velha «ao menos não deu trabalho», pelo que concluo que hoje em dia é bom que os velhos morram de forma prática tipo atropelados por um camião ou com um ataque cardíaco fulminante.
Reparem que o funeral teve lugar no dia mais quente dos últimos 90 anos numa capela sem vestígio de ar condicionado. Eu bem tentava só dar apertos de mão, mas as velhas gulosas puxavam-me com força pelo que tive de dar uns 600 beijos em caras suadas e molhadas. E ainda houve uma mulher que em vez de me dar os pêsames desejou-me os parabéns. Suponho que não gostasse muito da minha avó.
Por mais que eu quisesse ser parecido com o lado da minha mãe (louros e olhos azuis), sou basicamente uma cópia exacta de todos os meus primos do lado do meu pai ( e são seguramente uns 150 primos): super moreno, grandes olheiras e cabelo preto. Eu juro que se algum turista americano entrasse naquele momento na capela fugiria a sete pés pensando ter entrado em alguma célula secreta da Al Qaeda portuguesa. Aliás, os primos que não se parecem com árabes, são uma mistura de cigano com sotaque da serra.
O facto de ter tantos primos que vejo tão raramente levou-me a basicamente tratar os Joãos por Paulos, os Paulos por Pedros e os Pedros por Luíses. Como em todas as famílias, temos as ovelhas negras, pelo que fiquei a saber através da prima E. que o primo D. é drogado, a prima V. virou puta e anda com um homem casado e o tio G. continua a beber e a arrear na mulher.
No final despeço-me rapidamente de toda a gente com votos de um breve reencontro.
Que quase de certeza será noutro funeral.
quarta-feira, junho 27, 2012
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13 comentários:
Ela deu-te os parabéns porque se calhar pensou que assim tinhas acabado de herdar algum património...
Uma descrição muito realista do que realmente acontece nessas situações... e quando esses idosos nos abraçam e começam aos berros? Na altura uma pessoa está tão anestesiada que "nem quer saber", mas a verdade é que muitas dessas pessoas nem tinham ligação com os falecidos e simplesmente vão para lá "carpidar".
Compreendo perfeitamente o sorriso da tua mãe. Isto se calhar não era para dizer.
Só tu para fazer humor com o funeral da tua avó. :-) ( e gozar com o resto da família entretanto). Vivó Xarope
Ah...as alegrias que a família nos dá ;)
A mim também ja me deram os «consentimentos»... Ao menos consentiram-me que chorasse!
Não vem a jeito da conversa mas aproveito para dizer: Gosto tanto de te ler e agora andas tão caladito!
como é que nenhuma editora te descobriu (ainda)? A propósito da questão da genética, eu diria que é muito provável que vivas até aos 90, mas com a vidinha que levas, olha que não sei.
Não posso deixar de dar os Parabéns!Diverti-me imenso a ler os relatos das experiências que um estagiário de cf! Dentro de pouco tempo será a minha vez, e sem dúvida alguns momentos são realmente hilariantes! Votos de muito sucesso profissional!
É sempre agradável voltar a ver a família!
Especialmente se fizeres parte da familia Adams (como eu) e tiveres um tio no funeral que insiste em dar-te beijos nos cantos da boca, uma tia-avó que está constantemente aos peidos na casa mortuária e alguém (que tu nem sabes qual é o parentesco) que insiste em trazer ao pé de ti pessoas que nunca viste na vida e apresentá-las como os primos B., D., H.
Grande Blog Robene ;) Em nome das Sozinhas, Secas e Amargas Parabéns!
Bem, não era suposto um tema destes fazer-me rir, mas não deu para evitar! Muito bom!
Sim, os portugas são todos um bando de árabes! Mas pretos são sempre os outros.
Ri-me com o seu post, Sr Xarope, mas tenho de lhe dizer uma coisa. Acho que a sua avó também é capaz de ter ido a rir, só pelo prazer de se ter livrado de um neto assim!
grande blog! ja mt me ri!
grande blog! ja mt me ri!
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